domingo, 26 de dezembro de 2010

Conto de um jardim.

"Você ouviu falar sobre a moça?", brandou o beija-flor rapidamente enquanto estava de frente para a margarida, roubando-lhe beijos floris. A mesma negou delicadamente, balançando todas suas pétalas douradas como os raios de sol. Direcionou seu olhar para um ponto do jardim, onde estava a moça sentada com suas vestes longas, os cabelos compridos e negros. O olhar perdido no céu. Uma estrela egocêntrica soltou uma risada, exclamando aos quatro ventos que ela a observava. "Claro que não", o beija-flor - que de muito sabia - rapidamente se prontificou a falar - "ela observa o céu, pois o mesmo a lembra do seu olhar."
"Olhar de quem?", a margarida perguntou e a estrela direcionou toda sua atenção ao beija-flor, juntamente com a coruja, as outras flores e os grilos que habitavam o jardim. "Do rapaz dos olhos castanhos. Ele está longe agora. Quer dizer, sempre esteve. Eu ouvi por aí, que a moça o amou assim que o viu. Tinham tanto em comum... Porém o rapaz não achava isso. Apesar de gostar muito da moça, ela não era o ideal. Então, todos os dias, ela observa o céu, a procura da estrela mais iluminada.."
"Eu lhe falei, lhe falei que ela olhava para mim", a estrela egocêntrica falou com seu tom de voz superior, cortando o beija-flor que de nada disso gostou.
"Não é por sua causa. Ela procura a estrela mais iluminada, para fazer sua prece sincera, de que algum dia, quem sabe, o rapaz se apaixone por ela." Disse o beija-flor, com um tom de voz suave. E então parecia que o tempo parara. O vento não soprava, as nuvens não passeavam pelo céu, os grilos emudeceram e os pássaros pararam de voar. Todos juntos observavam a moça. O seu olhar era triste, perdido, estava longe. Seu semblante era abatido e ela permanecia quieta. Quem olhasse de longe, veria a cena como uma pintura de uma tela antiga.
"E se ela nunca ficar com o rapaz?", a coruja - que era muito curiosa - perguntou. Todos a encararam e o silêncio habitara aquela cena durante alguns segundos.
"Compraremos uma agulha para ela." , a margarida falara e todos a observaram dessa vez. O beija-flor, que não estava entendendo, resolveu se pronunciar. "Mas, porque uma agulha?" A margarida suspirou durante alguns segundos e observou um raio de sol tocar o rosto da moça, tentando confortá-la. "Para seu coração ela costurar."

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Desapego.

Eu descobri esses dias, no meio de algum sôfrego devaneio enquanto montava a árvore de natal - apesar do clima natalino não estar me dominando no momento - que não sou uma boa pessoa e tenho uma péssima mania. Assim que coloquei a estrela prateada no topo da árvore, sentei-me no chão e passei a observá-la, sentindo todas suas cores sendo absorvidas pelos meus olhos de calendoscópio, enquanto o brilho das luzes que piscavam sem parar me faziam sentir uma pontada de felicidade que só o natal conseguia. Mergulhei novamente em pensamentos. Não sou uma boa pessoa, repeti para mim mesma. Quem sabe assim, repetindo toda hora, de um jeito meio tresloucado, eu me convencia do contrário? E tudo isso se devia ao fato de eu ter a mania de substituir pessoas. São como produtos que tem um tempo de validade. Elas são perfeitamente estáveis e alegres para mim, mas depois de um certo tempo, acontece algo estranho. O doce enjoa, empurro o prato, não quero mais. E perdem a validade... E com isso, eu sinto um enorme vazio dentro de mim. Algo como a imensidão de um céu noturno, só que sem as estrelas. E com isso, eu as substituo por outras pessoas que irão ocupar esse vazio. Preencher o espaço, tampar o buraco que fica dentro de mim. Não queria que fosse assim. Sei o valor que cada um tem, mas simplesmente não posso evitar. Elas se estragam com o tempo. E eu não me sinto triste, nem feliz, nem mais nada. É oco, vazio. Só. E em uma última tentativa - embora inútil - escrevo uma carta para o Noel, deixando-a ao pé da árvore, para ser vista assim que ele adentrar meu lar. Quem sabe ele lendo, e entendendo, poupe-me desse nada que é viver a esperar quando será o próximo momento - e qual será a pessoa - que eu irei me desapegar.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Manto Tolo.

- Aqui também não tem lua. Há um manto acinzentado que cobre o céu. Ele é frio, meio ríspido. Deve ser ciumento. Escondeu todas as luas, as estrelas. As danças. Só restou vento. E frio.

- Aqui tem uma pequena mancha cinza em um canto. Ele não deve querer a lua com a gente... Quer o brilho dela só para si.

- Manto tolo.

- Manto tolo. Ele não deveria sentir ciúmes, né? Nunca uma coisa é totalmente nossa. Pertence a nós e ao mundo.

- Mas sabe que não é a primeira vez que isso acontece. Eu me lembro que uma vez o orvalho contou pra laranjeira que contou pro parapeito que contou pra janela que contou pra mim que de vez em quando o Decripto é assim mesmo. Diz que ele "é de lua", tem dia que fica deprimido que só vendo. Todo mundo agrada, mas ninguém alegra.

- Ele então deveria procurar a alegria em si mesmo, ao invés de procurar nos outros. Quem sabe dentro dele, perdido em uma de suas veias está ela? A coruja que fica em frente à minha casa, pousada na arcaica árvore poderia contar ao vento. Soube que ele tudo leva e tudo traz. Quem sabe ele poderia contar-lhe isso?

- Então faça assim. Ascenda uma vela, e leve três brevidades pra coruja. Vovó diz que quando você quer um favor do bicho-que-tudo-sabe, tem de primeiro agradar. Mas tome cuidado com o que dirá, pois ela roga desesperadamente com seu olho de pedido quente que ensandece até não querer mais. E mande as estrelas dançarem aquela ciranda de quarta-feira, vai que dá uma alegrada do Velho Céu.

- Uma vela com aroma de canela ou de flor-de-cerejeira? Ou ela aceita qualquer? Escolherei flor-de-cerejeira, pois vem da árvore nobre. Quem sabe assim seduz a pobre coruja, que continua parada na árvore? As estrelas estão escondidas. Acho que elas não gostam do manto acinzentado. Oh, elas são ciumentas! É isso! Sentem ciúme, pois ele lhes roubou o brilho da lua. O brilho da lua e a boa prosa com o coelho, que mora dentro dela! Ouvi dizer que ele é apaixonado pela mesma... Será que foi por isso que o manto a escondeu em seus braços tênues?

- Eu acho que pode até ser. Não sei, a Mãe tem se mostrado diferente comigo. Ela não está tão mais calorosa, teu peito de queijo branco tem se tostado, tua alma de parafina tem se derretido. Eu não sei se ela quer me confundir com aquele coelho, só sei que me sinto um pouco misturado. E o vento, então? Vamos falar a verdade que ele não tem ajudado em nada. Vovó me pediu pra ferver canela, coentro e folha de limoeiro lá na fogueira do quintal pra agradecer as almas que o padecem, mas não sei, não adiantou. Continua tudo parado: o relógio bate certo, a noite cai lenta, o pássaro cala cedo. Não gosto disso, eu queria movimento.

- O vento deveria nos ajudar. O que será que acontece com ele? Acho que sofre do triste pesar da solidão. Sempre o vejo por aí, tão sozinho, levando recados aos olhares curiosos dos passarinhos, que o acompanham de longe. Mas ele permanece só. Não deu certo? Vamos adicionar flor-de-cerejeira. Só uma pitada, bem pequena, dizem que deixa a alma mais serena e alivia o coração. Quem sabe assim, aumenta o movimento desses dias tão desalentos, aumenta a emoção. Quem sabe assim o vento volte a dançar uma valsa, seja no chão ou em cima de uma balsa, e se anime para nos ajudar?

- E se o segredo for mesmo a flor-de-cerejeira, que sua ternura faça da Lua a Mãe Fiel que nos cobre de luz e da sinfonia do silêncio. Que faça do vento a brisa cigana que abrasa os sentimentos que carrega por onde passa. Que faça da coruja a velha sábia da conversa fiada. Que faça do orvalho, do parapeito, e da laranjeira as alcoviteiras que tecem os fios duradouros do cimento popular. Que faça de nós simples admiradores secretos do espetáculo da vida que se faz presente a cada terço de segundo.


G’ Stresser e Mayara Marques.

(aprazivelirreprochidez.blogspot.com)

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Dez porcento.

Isso se tornou algo tão comum, que eu não consigo mais lutar contra. Não quero mais mudar. Mudar de país, de estado, de casa, de bairro, de você. Não sinto a mínima vontade e não faço o menor esforço para tornar tudo diferente. Simplesmente porque não faz sentido mais tentar vencer isso. Prometi que não escreveria mais sobre você, só que não consigo. Você está em todo lugar. Nas músicas, nas séries, nos filmes, em mim. E eu tentei, juro que tentei, por dias me livrar dessa parte que você ocupa. Desse espaço que é só seu, e ninguém mais consegue tomar conta. E quanto mais eu tento, menos esforço eu faço. Então eu penso: "Ah, tudo bem, deixa estar então. Fica aí". E eu sei, sei que isso vai me corroer por dentro. Até o dia que sendimentar meus ossos. Mas, não sinto a menor vontade de mover um dedo, um músculo, nada. Suponho que sem essa parte tua que me habita, seria pior, pelo simples fato de eu não conseguir mais me recordar como era antes de você chegar. Antes de conseguir, sem eu mesma perceber, se estabilizar no meu coração. Atualmente só te pertence dez porcento dele. Os outros noventa porcento você destruiu. Sem querer, mas destruiu.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

A mulher do espelho.

A casa continua a mesma. A mobília empoeirada e incólume, no mesmo lugar onde você a deixou assim que saiu. O café sob a mesa, forte e adocicado, do jeito que você gosta. Eu sentada em frente à penteadeira, desembaraçando meus fios enquanto observo a figura de uma arcaica mulher, tênue, com aparência moribunda. O olhar dela parece prescrutar o quarto, à procura de qualquer lembrança implícita sua. Qualquer frugal pedaço de você, que esteja perdido por aqui. Nos discos de vinil que você costumava ouvir, sentado na poltrona da sala em uma tranquila tarde de primavera; nas fardas tão bem engomadas que você costumava usar com arroubo, deixando transparecer toda sua elegância assim que as vestia; no seu lugar na cama, que continua desfeito desde o dia que partiu. A mulher do espelho não parece muito bem. Está abatida e magra. Com aparência doentia. O seu olhar é tão intenso, que posso ver através dele a dor que o seu coração lhe faz sentir assim que bombeia sangue para seu corpo. Machuca bastante, tanto que ela coloca a mão em cima do local, em uma inútil tentativa de fazer cessar. A casa em silêncio, só o barulho descompassado do coração da mulher. No quarto ao lado, jaz a figura pequena de uma criança deitada na cama, com a pele de um tom acinzentado claro. Os olhos fechados com a aparência serena, como se estivesse em um longo sono sem fim. Parecia uma antiga boneca de porcelana. A figura da mulher no espelho cravara as unhas sob a pele, sentindo as lágrimas descerem intermináveis pelo seu rosto. E ao observar meus braços, notei que arranhões atingiam o meu âmago. Meu rosto molhado me impedia de encará-la perfeitamente. Ela parecia cansada de esperá-lo. Esperá-lo voltar de uma guerra que não tinha data para acabar. Assim como a petiz, adormecida em um sono perene no quarto ao lado, cansou. Senti meus pulmões se comprimindo, enquanto a figura do espelho sumia. Oh, não, volte aqui. Faça-me companhia! Não vá... E com o corpo cansado e a alma dilapidada, eu aceitei o que quer que fosse acontecer comigo, encarando minhas mãos com tons de vermelho. Não havia mais motivos para continuar. Nem a petiz, nem você, e nem a mulher do espelho.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Carmélia.

Seus traços eram tão bem feitos, que pareciam ter sido moldados a mão por algum ser celestial. Movimentava-se sorrateira como um réptil. Uma cobra com passos lentos e certeiros, tão leves como passos de valsa. Seu olhar compenetrado encarava apenas um ponto na imensidão do nada, ponto este que não era eu. Seus lábios semicerrados impediam o veneno irreversível de escorrer entre os mesmos, contaminando o chão que parecia ter sido reconstruído com benitoíte só para ela passar. Carmélia, tão aprazível quanto a flor. Seu sorriso corruptível, seu andar avassalador. E por onde ela passa, muitos há de conquistar, com seu jeito tão sereno, com seu dom de arrepelar. Segurando o arcaico papel, manchado de lágrimas e com aroma de fel, eu suspiro descontente, observando sua letra tão iludente, com suas palavras alicientes. E as lágrimas não libertas, que tentaram descer inutilmente pelo meu rosto, são engolidas novamente, ferindo comovedoramente o meu coração. E eu te observo ir embora, tão majestosa, tão melindrosa, caminhando para o final da rua, deixando para trás seu aroma de bromélia. E no papel me resta suas palavras tão ilusórias:

"Para sempre sua,

Carmélia."

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Oração.

Bom Deus, não sei muito bem como fazer isso. O senhor sabe que não sou muito cristã, e que minha fé pode ser até duvidável. Mas me disseram que nos momentos de desespero, o nosso pai nos dará o conforto que precisamos. Sabe, tem alguma coisa aqui dentro, uma angústia, que machuca, arranha o coração. Você pode ver daí de cima, senhor? Eu sorrio, me divirto, me afogo em um copo de cachaça, escuto músicas altas para espantar meus demônios, mas nada me faz esquecer. Porque isso? Você não está vendo que me faz mal, meu Deus? Olha, feche os olhos e escute. Está vendo esse som? É a minha dor gargalhando. Eu só queria conseguir empurrar essa decepção por goela abaixo, mas ela sempre volta. Só queria pegar essa desilusão, colocá-la em cima de velhas madeiras e atear fogo. Quem sabe o calor da fogueira confortasse o meu coração, descongelando-o. Você me entende? As lágrimas não descem com facilidade, e quando isso acontece, parece que rasgam minha pele sem a menor compaixão. Porque isso está acontecendo comigo? Só queria saber o que é sorrir verdadeiramente de novo. O que é respirar fundo, sem sentir o ar ser comprimido em meus pulmões. Você poderia me ajudar? Não estou pedindo muito, senhor. Não me interesso por dinheiro, riqueza, eu só quero paz. Só isso, a única coisa que lhe peço. Não quero um novo amor. Se o antigo já me machuca sem dó nem piedade, imagina um novo? Olha Deus, sei que você tem muitas coisas com o que se preocupar ainda, coisas bem mais urgentes, mas pense em mim e tente me ajudar. Não esqueça de mim. Aguardo por melhoras. Amém.

sábado, 23 de outubro de 2010

Diálogo de uma decepção.

- Está chorando?
- Oh, não, não estou.
- Claro que está. Porque chora?
- São assuntos meus. Se contar problemas resolvesse, ninguém mais os teria.
- Não resolve, mas alivia.
(silêncio)
- É triste quando moldamos a confiança em uma pessoa como se fosse um pequeno cristal, entregamos e deixam-na cair, sem o menor cuidado. É difícil juntar os pedaços depois...
- É difícil, mas com o tempo conseguimos, colando cada pedacinho.
- E se algum pedaço se perder pelo meio do asfalto?
- Aí encaixamos outro no local. Vai parecer igual, mas saberemos que não será a mesma coisa.
(silêncio)
- Porque será que as pessoas magoam umas as outras? Acho difícil ser por pura inocência...
- Eu prefiro acreditar que seja. É difícil crer que alguém seria tão cruel a esse ponto.
- Dói aqui dentro, menino. É uma dor que incomoda, cutuca, machuca o coração.
- Deixa ver... É, está batendo bem devagar.
- Não tem mais forças para bater normalmente. A dor o agride de tal forma, que ele não consegue mais se lembrar como era antes dela chegar.
- Você tem que procurar se apoiar em alguém que nunca vai te abandonar, consegue me entender?
- Você?
- Você.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Pierrot apaixonado.

Eu estava jogado naquele beco sujo. Naquele beco sujo, eu estava jogado. E eu podia ver ao meu lado, garrafas baratas, largadas naquela rua pacata, onde eu me afoguei em solidão. E eu sentia o meu frágil coração se quebrar em pedaços, como em pequenos retraços, sofrendo com o embaraço da ilusão. E cada gota que caía dos meus olhos, você respondia em refolhos, sem se preocupar se aquilo iria volatilizar o que eu sentia por você. E eu te via na ciranda, em demanda de alegria, você rodopiava, você ria, para outro, não para mim. E eu me perguntava porque tem de ser assim, enquanto me escondia atrás do muro, com meus sentimentos inseguros, talvez um pouco imaturos, mas você me entenderia. Sorria, ah, tão bonita colombina! Teu sorriso me afetava mais do que anfetamina, fazendo-me sorrir junto, na esquina, ao te ver tão deslumbrante, seus olhos cintilante, isso era confortante. E então desafiante, ele se aproximou. Apresentou-se como arlequim, sua pele cor de marfim, suas roupas multicolor. E com sua conversa de botequim, ele te conquistou. Encantada como em um jardim, você era a rosa, entretida na prosa do seu admirador. E eu te observei ir embora, tão maravilhada, tão aurora, que nada pude dizer. Mas o que fazer? Sou só um simples pierrot, que não tem nada para te oferecer, apenas o meu dilacerante e não tão importante, amor.

domingo, 17 de outubro de 2010

Limpeza.

Abri a velha porta de madeira, ouvindo o ranger de suas dobradiças tentarem me avisar que já deveria ter feito isso a muito tempo. A claridade tomou conta do pequeno quarto onde o breu me fazia companhia durante tempos. Pude enchergar a poeira e todos meus sonhos e ilusões caídos entre os móveis antigos. Peguei um saco plástico e coloquei todos no mesmo, um por um. Retirei todas as fotos, músicas, risos, lembranças e coloquei-as dentro do saco. Varri para fora do quarto todas minhas lágrimas e joguei a tristeza pela janela. Caminhei devagar até o rádio e liguei o mesmo, ouvindo uma melodia dançante me fazer fechar os olhos e balançar a cabeça devagar, sentindo a música entrar pelas minhas narinas, me entorpecendo e indo direto para minha corrente sanguínea. Quanto tempo eu não fazia isso? Nem me lembrava mais. Meus lábios se curvaram e eu notei que já podia sorrir. Céus, depois de meses eu conseguia sorrir. Me dirigi até meu armário e procurei entre todas as velhas roupas - que decidi jogar fora também - meu arcaico coração. O achei em um canto escondido, enrolado em plástico bolha com toda a delicadeza do mundo, para não se machucar. Retirei o plástico e pude sentir que ele batia normalmente, sem dor. Reparei que havia esquecido da angústia debaixo da cama e agarrei-a, jogando-a no saco também. Olhei para o lado e havia ainda uma pequena lembrança de você em cima da cômoda. Mas, não a joguei fora. Sabe por quê? Notei que tudo isso me ajudou. Quando joguei toda dor, angústia e ilusões fora, vi que elas tampavam os momentos de felicidade. E eu precisava deles. Esquecer não é o jeito de viver melhor. Eu quero lembrar. Lembrar de todos os momentos, de todos sorrisos. De toda dor. E pensar: Que bom que já não me atinge mais.

domingo, 10 de outubro de 2010

Diálogo do fim.

- Eu não entendo. Porque você está me deixando? Foi algo que eu fiz?
- Não.
- Então... Por quê?
- Eu... Apenas preciso. Você nunca acordou com uma vontade repentina de jogar tudo para o alto? Família, faculdade, amigos, amores e ir embora? Sem rumo, apenas você a caminho do sol. Encontrar a felicidade.
- Não. Minha felicidade é você.
- Mas, a minha não é você.
(silêncio)
- Nós estamos perdidos, né?
- Nós nos perdemos no momento em que nos encontramos.
(silêncio)
- Apenas... Me responda. Você foi feliz comigo? Aqui?
- Não..
- E você vai ser feliz nesse novo lugar?
- Não...
- Então... Por que ir?
- Porque é preciso. Eu tenho a chance de mudar minha vida.
- Mas... E eu?
- E você? Você vai me amar para sempre. Vai me procurar em cada beco, garota, bar. Aí um dia, em um lugar qualquer, você vai me ver. E vai achar que foi apenas uma ilusão, e eu irei embora.
- E você me amou? Digo, de verdade.
- Falar sobre o amor é tão clichê. E eu acho o amor deveras tedioso. É como pedir comida pelo telefone. Você espera a comida chegar, fica ansioso, quando ela chega você come bastante, fica cheio, e vai sentar no sofá para ver um programa qualquer na TV.
(silêncio)
- Eu vou sentir tua falta.
- Eu também.
(silêncio)
- Acho que é isso então. Eu devo ir.. Você.. vai para casa?
- Não. Vou ficar apenas aqui sentado, te vendo ir embora.
- Hum... Adeus então...
- Adeus.






Texto inspirado no filme do diretor Matheus Souza "Apenas o fim". Qualquer semelhança, não é mera coincidência.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Loucura.

Ah, e daí se eu quero correr por aí, gritando a plenos pulmões tudo que sinto? Se sinto vontade de abrir meu guarda-roupa, retirando todas as antigas roupas e rasgando-as em pedacinhos? Se quero tomar banho de chuva, beijar na lua, nadar no ar. Se quero dançar no vento, chorar desalento, melindrar. Quero construir um castelo de areia, onde o meu amor teça uma teia que guarde seu coração. E no meu reino terá um grande deserto, com personagens incertos, sem direito a alteração. Mas eu irei me preocupar de reservar um espaço, nem que seja um pedaço, só para você. Iremos dançar uma valsa, em cima de uma balsa, perto do mar. Sonho com esses tormentos, a todo momento, interestelar. E eu vou ingerir um remédio, pular de um prédio, aprender a voar. Pousar em um terreno, tomar um veneno, sorrir. Isso era tudo que eu queria, viver nessa epifania, rir. Ao meu ver isso não é errado, querer viver no pecado, compenetrado. E se eu quiser pôr fogo na casa, você vai me impedir? De quebrar os móveis, reunir os fósseis do que restou de mim. De quando eu possuía sanidade e achava banalidade querer viver assim. Cansei de ser aquela velha garota passada para trás. Quero mais é que o circo pegue fogo, que o espetáculo irá começar. E eu pretendo dançar sobre os destroços, sem nenhum remorso do que você irá achar.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Diálogo de uma noite.

- Não gosto de noites frias.
- Eu gosto. Fazem-me lembrar que nem todos os dias são de sol.
- Porque chora?
- Porque machuca.
- O frio?
- A dor.
(silêncio)
- Quando dói, eu costumo olhar o céu à noite. O brilho das estrelas, de uma forma estranha, consegue me fazer sorrir.
- Não funciona mais, menino. Esse vazio sugou todo o brilho.
- Porque não faz um muro?
- Um muro?
- Um muro de pedras. Pegue todas as pedras que ver, e para cada problema, coloque uma no muro.
- Não existe tantas pedras assim no mundo, menino.
(silêncio)
- Você ainda terá algo sempre com você.
- Esperança?
- Eu.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Diálogo de uma manhã.

- O que você está fazendo aqui?
- Vim até aqui para ver o mar.
- Eu gosto do mar. Principalmente a essa hora. Olhe, os raios de sol tocam suavemente a água. Como se roçassem a palma de sua mão pelo rosto da mesma, e ela sorri. Seu sorriso é tão inebriante, que ofusca o céu com seu brilho.
- Porque ela sorri?
- Porque ela gosta do toque dele, menina.
- Ele não consegue perceber isso?
- Sim, ele percebe. Mas não pode fazer muito quanto a isso.
- Por quê?
- Porque ele não a ama.
- Então, porque ela continua esperando ele toda manhã?
- Porque é melhor sentir as sensações que o seu toque a causa apenas uma vez, do que viver eternamente sem isso.
(silêncio)
- É lindo.
- Concordo. Eu gostaria de fugir para cá, e observar todas as manhãs esse belo espetáculo.
- Fugir de quê?
- Do amor. Apenas o suave roçar da palma de sua mão, menina, não faz-me sorrir mais.
(silêncio)
- Porque nunca me disse?
- Iria mudar algo?
- Não.
- Por isso.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Medo.

Eu sou assim, não me julgue insana. Sou apenas um ser humano comum. Talvez um pouco mais tresloucada...
Tenho meus medos. Sim, patéticos, mas são meus. Sinto medo de escuro, abelhas, da morte, filmes de terror. Medos que talvez você julgue banais. Porém isso faz parte de mim. Você me entende? E eu não consigo me desvencilhar deles. Sabe aquela frase: "Pratique o desapego." ? Pois é, é bem mais fácil falar do que praticar. Vou te falar, a maioria das pessoas não pratica. Porque não conseguem se desapegar de seu passado. De todas as coisas ruins e boas que as ajudaram a crescer, e tornar-se o que são. É difícil abrir o seu arcaico armário de madeira, e retirar de lá todas suas roupas empoeiradas, colocá-las em um saco frugal de lixo, e deixá-las para trás. Não conseguimos fazer isso. Quando abrimos o armário e seguramos as roupas, cada uma nos lembra alguma coisa. Aquele pôr-do-sol no arpoador, aquela sexta-feira gélida de inverno, onde você deixou cair chocolate quente em minha blusa. A estréia de um bom filme no cinema. Uma tarde fazendo um piquenique com os amigos. E é difícil livrar-se dessas lembranças. Tanto das ruins quanto das boas. Temos medo. Medo de que a falta delas nos enlouqueça. Mude quem somos agora...
Mas, para te falar a verdade, eu cansei de ter medo. Já tive tanto medo de perder algo, que terminei perdendo. Agora só quero mudar a página, rasgar as roupas antigas e queimar as fotos. Deixar o passado e me desapegar de tudo e de todos. E o medo? Coloquei ele dentro do saco frugal de lixo, e pretendo carregá-lo para bem longe daqui. Cansei de tê-lo em minha vida. É tempo de mudanças.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Carta.

Só escrevo essas linhas para que entendas como me sinto.

Eu fico feliz com dias nublados, mas, os dias de tempestade me assustam. E quando sinto-me insegura e sozinha, você está comigo. Me ajudando a superar o medo da escuridão e cobrindo meus ouvidos com suas mãos quando algum raio machuca-o com seu alto barulho. E eu seguro a sua mão e sorrio, pensando que por maior que seja o tempo que eu esteja longe de ti, eu sempre voltarei. É uma certeza. Como saberemos que o sol sempre nascerá logo pela manhã. E as estações passam: Verão, primavera, outono, inverno. E você sempre está aqui. É você que passa delicadamente seu polegar pelo meu rosto quando choro, e me pede baixinho para eu não desistir do mundo. Para eu aguentar firme. Que enquanto eu estiver aguentando esse peso em minhas costas, você estará me segurando. Que enquanto eu aguentar, você irá aguentar também. E eu esboço um sorriso ao saber que não estou só. Sabe, eu já te falei que a solidão me assusta? É meu caro, ela me assusta. Muitíssimo. Preciso sentir que há alguém comigo, algum afeto, carinho, algum amor. Love is all you need. E com você eu me sinto assim. Não me importo que o mundo esteja desabando, que constelações caiam sobre a terra e o sol esfrie virando um imenso cubo de gelo. Eu continuarei segurando a sua mão. Eu continuarei contigo. Eu continuarei sendo sua amiga. Você consegue me entender agora? Não sei, me bate uma agonia nessas noites de sexta-feira tão tristes. E hoje eu fiquei com vontade de expelir tudo que sinto. Tudo que estava guardado cuidadosamente nesse meu coração arcaico. Cuspo as palavras e elas saem naturalmente. Não dói. Não é estranho. É a pura verdade. É amor. Amizade.
Enfim, escrevo-te para que tenhas uma pouca idéia do quanto é importante para mim. Cartas nunca foram minha especialidade, você sabe disso. Só quero que saibas que naqueles dias tristes, quando lágrimas escaparem infreavelmente do teu rosto, quase afogando-te nelas, você poderá me ter por perto. Em qualquer dia, em qualquer ocasião, momento, sentimento. Estarei ao teu lado até que o sopro de vida seja levado do meu corpo, carregado delicadamente para algum lugar qualquer. Acho que já consegui lhe explicar um pouco do que sinto aqui dentro. Olha, coloque a mão. Está sentindo? Ele bate. Apesar de todas as cicatrizes, ele bate. Porque alguém sentou ao meu lado enquanto ele estava despedaçado, e perdeu seu tempo costurando pedaço por pedaço com uma fina agulha de metal. Esse alguém foi você.
Agora, me despeço aqui com grandes beijos. Até breve.


Pequena carta, dedicada à alguns.

Gaivota.

Entenda, por mais que você deseje arduamente, você não irá me aprisionar. Não quero, não consigo me prender a algo. Preciso ter a imensidão do céu claro, que de tão azul parece que foi pintado, à minha visão. Preciso do sol, das nuvens, da chuva, do vento. Ah, o vento. Que sempre me fez companhia, e consegue me acalmar apenas com um beijo suave. Você tem de me aceitar como sou. Um pássaro selvagem que não aceita ser colocado em nenhuma gaiola, seja ela de metal, bronze, prata, e até mesmo de ouro. Poderia me dar uma gaiola repleta de cristais que eu sofreria ao olhar o mundo das grades e não poder me jogar sobre ele. Preciso do mundo. Preciso dos amores platônicos, dos sorrisos em uma tarde ensolarada na praia, do choro de um dia nublado e cansativo, da mágoa dos que partiram meu coração sem ao menos perguntar se poderiam. Preciso do mundo repleto com tudo que há de pior e de melhor. Isso é viver. Aceitar as dores e as alegrias, e é isso que eu quero. Saltar por entre as estrelas, sem ter medo de cair. Voar o mais alto possível e conseguir alcançar as nuvens, vendo nelas alguns dos meus sonhos, tentando segurá-los e guardá-los na palma da minha mão, observando no instante seguinte tudo virar nada. É isso. Nada dura para sempre, nem irá durar. E eu vôo o mais alto que posso, sentindo a liberdade bater em meu rosto e entorpecer minhas narinas, deixando-me feliz. Eu necessito disso de uma forma insana, que não sei explicar. Portanto, não tente me prender. Preciso planar por entre as nuvens e conhecer o mundo, ter minhas quedas e vôos inebriantes para contar. Não deve existir dor maior do que olhar o mundo de uma gaiola, sabendo que nunca poderá tocá-lo.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Cerejeira.

Desculpa, mas, é assim que eu me sinto. Absurdamente feliz em um minuto, triste no segundo seguinte. Sorrindo em uma hora; outrora chorando pela solidão. Feliz pela solidão. Essa sou eu. Uma árvore arcaica cujas raízes ardilosas mudam de lugar sorrateiramente, procurando por sol. Procurando por chuva. Procurando por vento. Procurando por um pedaço que me falta aqui dentro, fazendo com que todas minhas personalidades criem uma gigantesca balbúrdia. Esse pedaço talvez seja você.
Fico calada, tênue em meu espaço, sentindo o gélido vento noturno vir calmamente até mim, convidando-me para uma dança. Fecho meus olhos e tento esquecer de tudo. Limpar minha mente, abrir as portas para novas possibilidades, novas chances. Novos amores. Me desapegar, e deixar o vento ir embora com todas minhas dores, angústias, medos, e você. E o vento tenta se encarregar disso, mas, de alguma forma que não sei explicar, minhas raízes agarram as memórias, não deixando-as ir. Não deixando a dor ir. Talvez seja porque já me acostumei com elas. Talvez seja porque essa dor me lembre você. E por mais que eu deseje de uma maneira insana que tudo isso se vá, ao mesmo tempo eu não quero deixar ir. Não consigo. Não posso deixar, será que você me entende? Não, você não me entende. Olhe, meu coração é de madeira. Nem mesmo assim gostaria de tê-lo? Madeira de uma cerejeira.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Eu não sou a doninha de ninguém.

É incrivelmente encantador ver as pessoas apaixonadas. O sorriso amoroso que uma esboça para outra apenas de vê-la, ou então escutar sua voz ao telefone. O modo como o amor parece um tipo de gás, que ao ser aspirado muda completamente o jeito das pessoas. Suas atitudes ficam mais singelas, o modo como vêem a vida e até o humor fica em alta. Todo dia é dia de sol, e os raios que o mesmo solta parecem atingir suas vidas, iluminando-as com um brilho adorável. Até se for um nebuloso dia de chuva, olhariam para o céu e diriam: "Olhe todas essas gotas de chuva. Encantadoras, não? O meu amor por você é maior que o somatório de todas elas".
Sim, é realmente incrível ver como o amor muda a vida das pessoas. É um sentimento forte e indescritível. É assustador como é delicioso sentir-se de alguém. Sentir que é posse de uma pessoa e ela daria o mundo para te ver sorrir. Que antes de dormir ela liga só para ouvir tua voz e falar: "Boa noite, te vejo nos meus sonhos". Como a presença com a pessoa te faz absurdamente feliz, nem que seja por um segundo. E tudo que ela faz e diz, absolutamente tudo, soa como poesia em seus ouvidos.
Eu estava vendo um filme francês, que em um momento do filme uma mulher dissera: "Você já recebeu cartas assim?"; E a personagem principal replica: "Não, não sou a doninha de ninguém". Refleti durante alguns segundos e pensei que também queria ter histórias amorosas para contar. Alguém que esperasse esperançosamente pelo fim de semana, apenas para me ver. Alguém que me ligasse apenas para ouvir minha voz. Algum sentimento verdadeiro. Tudo bem, não desejo desesperadamente por isso. Apenas que aconteça. Mas, sei esperar, sei que o destino é piedoso e o meu já está escrito. Enquanto isso fico aqui, em meu canto com meus sonhos. Em breve serei a doninha de alguém.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Realidade de uma rua.

Esses dias realmente não tem sido muito bons para mim. Um sentimento de angústia e solidão se apossa do meu corpo, sem previsão para ir embora. A tristeza não é passageira, aperta meu coração sufocando-o, sem deixá-lo respirar por um momento. As noites estreladas só conseguem me fazer relaxar por um segundo, e logo a dor volta a tomar conta de meu ser. É difícil conseguir esboçar algum sorriso com problemas martelando em sua mente. Eu tento, mas meus lábios recusam-se a encurvar-se, por maior que seja minha vontade. Acordar é só mais uma obrigação entediante. Tudo bem, decepções são normais, certo? Não deveriam ser. Elas doem tanto. Essa dor vai demorar a passar? Espero que não. Lateja tão forte que até pensar está difícil.
E com esse tipo de pensamento levantei-me e fui à rua. Caminhava tranquila sentindo uma brisa leve bater em meu rosto, porém parecia que a luz do sol não conseguia chegar até ele. Uma escuridão gelada e vazia bloqueava a passagem. Era a minha dor.
Com a cabeça baixa eu seguia o caminho pela rua, e ao levantá-la observei uma senhora que aparentava ter no máximo seus quarenta e cinco anos. Suas pernas eram tortas, acredito que seja por causa de alguma paralisia, e ela se movimentava com a ajuda de um "andador". Porém ela sorria. E ao chegar em casa perguntei ao meu pai, que me contara que ela sempre fora assim. Todos os dias, uma vez pela semana ela tem de dar uma volta pelo bairro, para suas pernas não atrofiarem. E conseguia fazer isso sorrindo e conversando pela rua. E no momento que ouvi essa história, eu já não sentia mais nada. Se ela que tinha todos os motivos para rejeitar sua própria existência sorria, eu, com meus meros problemas também deveria. E foi isso que eu fiz.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Vida.

Ah, quer saber? Que vá tudo para o inferno!

É isso aí, você me ouviu bem, que vá tudo para o inferno. Todos os seus amores acabados e inalcançados, toda sua tristeza, todas as dores do mundo, todos os sonhos que nem chegaram a se realizar e ficaram apenas presos a quatro chaves em uma mente utópica. Olhe pela sua janela, veja os tons de azul que pintam o céu como em um imenso quadro, com cores vivas e surreais. O sol brilha tão fortemente que pode nos cegar a qualquer momento, e o seu calor esquenta o gelo que o meu coração está rodeado. As árvores chacoalham-se ao som da música dos ventos e os pássaros completam a orquestra, enquanto um milhão de guizos de crianças podem ser imaginados espalhados pelo mundo!
Está vendo? Não chove mais lá fora. Parou de chover há um bom tempo, você que não percebeu. Estava olhando para onde? Pequenos detalhes do mundo podem deixar-nos feliz. Você não se sente assim? Então é porque não olhou ao seu redor direito. Porque não tenta desviar os olhos da sua dor, pare de martelá-la em suas costas, que um dia se surpreenderá olhando as pequenas coisas da vida e dirá: "Engraçado, sinto-me feliz outra vez".

domingo, 22 de agosto de 2010

Caminhos.

Fadiga sf. Cansaço, canseira.

É isso que encontro ao abrir o dicionário e ao olhar para minha alma. Sinto-me fadigada, cansada de tudo. De você. E eu juro por Deus que essa será a última vez que escreverei sobre você. Ou, pelo menos juro que tentarei não escrever mais. Sinto uma imensa dor de coluna há semanas. E eu descobri que essa dor é causada pelo peso da angústia de não te ter. De não poder te abraçar, jogar conversa fora e tomar um chocolate quente em uma noite fria de uma sexta-feira qualquer. Eu prometi a mim mesma não desistir, não depois de tanto tempo. Só que não dá, já chega. Cansei de ficar sentada na janela esperando você chegar. Olha só, já é noite. Já é dia. Noite novamente. E você não vem. E com isso o mundo vai mudar, o tempo vai passar, tudo irá se renovar, só eu que continuarei arcaica, sentada nesse pequeno banco de madeira, esperando você. Eu honestamente não quero isso para mim. É hora de abrir os olhos, tirar o tampão de sonhos que os cobre e perceber que há muitas coisas à minha volta. Coisas que eu não percebi antes porque não tirei meus olhos de você. E no final, eu vou conseguir ser feliz sem te ter. Só tenho de lembrar como eu era antes de você chegar. Antes dessa dependência viciante em você se apossar de mim. E eu vou conseguir me lembrar. Já posso me lembrar. E com isso, irei trilhando meu caminho, chutando as pedrinhas que aparecem em minha frente. E você, como sempre seguirá o teu. Quem sabe um dia eles se cruzam? Tanto faz agora também. Eu só quero ser feliz.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Desejo.

Não sou insana, tresloucada. Apenas tenho um objetivo, e irei alcançá-lo. Minha meta, motivo de meus doces devaneios e sonhos. Fecho os olhos e quase posso imaginar como será o dia que finalmente irei conseguir. A textura da pele, o sabor, o aroma. De você. É isso que eu anseio fortemente, cada célula do meu corpo se debate por você. Depois de tanto tempo, qualquer pessoa sã desistiria, não é? Mas, eu não vou. Meu corpo treme e se arrepia dos pés à cabeça só de pensar no momento que estarei em seus braços. No momento que poderei roçar meu nariz em seu pescoço, te apertar contra meu corpo e sorrir por saber que é finalmente meu. E é por essa sensação que não desisto, nem irei desistir. Mesmo que ninguém acredite ( muito menos você), eu sei, eu sinto que sou tudo o que precisa. Eu sou seu riso, seu jeito, eu sou você. E você será eu. Meu. Em breve. Muito mais em breve do que imagina.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Diferentemente parecidos.

- Mas, nós somos completamente opostos! - Ela mexia-se nervosamente de um lado para o outro da sala, causando leves tonturas em uma outra mulher que habitava o recinto. - Somos muito diferentes. - Ela enfim deu-se por cansada e jogou-se de qualquer jeito sobre o sofá, encarando o chão com um olhar perdido. - Porque acha isso? - A mulher que estava ao seu lado perguntou. - Vocês são tão parecidos. - Ela finalizou. - Não somos. Eu me moldei a ele. Sou as músicas que ele escuta, os filmes que vê, suas gírias, seu modo de falar e de sorrir. Por isso somos parecidos. Mas... Essa não sou eu. E além do mais, ele é de Gêmeos e eu sou de Áries. - A garota pronunciou e a mulher ao seu lado sorriu. - Eu acho que vocês tem mais em comum do que pensa. Não culpe a astrologia, ou o que quer que seja. As manias dele estão em você, como as suas nele. Um relacionamento é composto assim, de trocas. Doamos virtudes nossas, e recebemos as dos outros. - A mulher dissera, sendo encarada curiosamente. - Mas, se fosse assim, teria dado certo. - Ela falara, desviando o olhar para o chão. - Quem disse que não deu? Deu certo no tempo que ocorreu. Se não tivesse dado certo, nem teria começado.

domingo, 15 de agosto de 2010

Venenoso.

Você se rebela, se debate, me fere, sai correndo. Sem se preocupar se seu veneno vai me corroer por dentro como um ácido sem antídoto, que dissolve dolorosamente toda a alegria que brota em meu ser assim que te vejo. E eu continuo me arrastando atrás de você, como uma presa viciada no veneno da serpente. Engolindo poeira e tendo minha pele arranhada pelo chão asfaltado. E você se delicia com cada parte da minha dor. Cada momento que imploro por um simples ato de afeto seu. Nem que seja o brotar de um pequeno sorriso de seus lábios. Aproveite enquanto pode, pois um dia cansarei de rastejar e me levantarei do chão. Aí então você sentirá a dor incurável da minha ferroada...

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Quadro.

Fiquei parada durante alguns minutos, observando o quadro de uma jovem garota a minha frente. Ela mirava o mar, com um olhar vazio e triste. O dia estava nublado e a praia deserta. A mulher que estava ao meu lado suspirou. - Ela parece tão triste - Ouvi a voz feminina ao meu lado murmurar. - Ela está triste. - Falei quase em um suspiro, encarando o quadro a minha frente. - Por quê? - A mulher perguntou-me. - Talvez seja porque quem ela ama, está longe. - Eu suspirei mais uma vez e desviei o olhar do quadro. - Por isso o olhar vazio e triste... Está pensando no seu amado. - A voz suave ao meu lado falou como se pensasse alto. - Ela está pensando porque não pode estar com ele, dias nublados fazem-na feliz. Por isso encara o mar, despejando nele todas suas mágoas e utopias. - Eu falei e elevei meus olhos mais uma vez a minha pintura. - Eu acho que a menina deveria agir ao invés de ficar pensando tanto. Um sonho só é uma utopia quando a gente quer. Deveríamos parar de colocar obstáculos e lutar atrás do que queremos. A vida não é tão difícil quanto parece. Apenas temos de tirar a venda que nos cega e enxergar além, e ver que logo alí, atrás das nuvens do dia nublado - A mulher apontou para o meu quadro - Existe um lindo arco-íris. Só na espera de ser alcançado! - Encarei ao lado e a vi esboçar um sorriso, caminhando para fora do local logo em seguida.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Você.

Você ainda está aqui. Seu sorriso branco entorpece meus sentidos, me fazendo perder forças ao vê-lo se abrir. Seus olhos castanhos cor de avelã que eu tanto queria mergulhar como em um profundo oceano, perdendo-me neles e não querendo encontrar a saída. Sua voz rouca que me agrada ao ser pronunciada e arrepia-me da cabeça aos pés. Você ainda está aqui. O jeito como fala comigo, suas brincadeiras, suas manias. A vontade que tenho de te abraçar e te pedir baixinho ao pé do ouvido que esqueça do mundo junto comigo. Que sejamos só nós dois, e mais ninguém. Você não está aqui. Eu sei disso ao encarar o espaço vazio ao meu lado. Você vai demorar a chegar? Nem que seja para eu te olhar de longe, desejando da forma mais árdua possível tudo que não posso ter. Nem que seja para ficarmos em silêncio. Mas, eu realmente preciso de você ao meu lado. No meu coração já não basta mais.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Livro.

Te quero de alma e coração. Quero a suas mordidas no canto da boca, seu sorriso divertido, sua mão colocada propositalmente sobre a face quando está envergonhado, suas gírias, o jeito como canta MPB, seu mau humor, sua forma rabugenta de tratar os outros, sua gula por leitura e filmes antigos, seu jeito de criticar, seus vícios, suas histórias mirabolantes. Te aceito com todos seus defeitos e virtudes, os quais já sei de cor. Você é como um livro que eu gravei do início ao fim, cada página, cada linha e palavra. Eu te quero mais do que você possa (ou não) imaginar. Talvez você não saiba. Talvez sim. Enquanto isso, vou te colocar alí na estante. Estou só esperando o momento certo para ler o capítulo final.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Mudanças.

Você sabe que eu não sou fácil. Sou assim, de mil faces. Mil rostos que se perdem e se confundem dentro de mim. Tresloucada. As vezes até chego a pensar que tenho Síndrome de Asperger. Ou talvez não. Talvez eu só esteja cansada de todos vocês. Cansada de pessoas que não me completam, músicas incompatíveis e amores irreais. Gostaria eu de poder interagir com os outros. Mas me incomoda, me fere, não consigo. Eles simplesmente não parecem bons o bastante para minha loucura. Idéias iguais, comportamentos iguais, gostos iguais. Isso é muito para mim. Não aceito, e não irei aceitar. Não sou obrigada a engolir pessoas que não me completam, com gostos e idéias opostas as minhas. Me chamavam de arrogante, não sou mais. Continuo com as mesmas idéias sobre todos, mas passei a empurrá-los garganta à dentro. Não me satisfazem, mas isso é preciso. E ao ler Caio, me encontro em suas palavras: "Eu mudei muito, e não preciso que acreditem na minha mudança para que eu tenha mudado".

domingo, 1 de agosto de 2010

Ilusão.

A minha cabeça dói. Aperta, de uma forma insuportável. Sinto como se estivessem esmagando fortemente todas minhas ilusões. E isso dói, dói, dói. É insuportável você pensar que não terá mais em que se agarrar. Não terá um refúgio para se esconder quando o céu desabar e estrelas de lata ferirem suas mãos. Pressiono minha cabeça a fim de parar com essa dor que me dilacera por dentro. Pouco a pouco, arrancando cada parte de mim. Cada refúgio, cada memória que guardei a quatro chaves em minha mente, quando tivesse de desaparecer. E eu sinto lágrimas escorrerem pelo meu rosto, e com elas escorre alguma ilusão. Não, não deixem-nas ir. Eu preciso delas. Abro os olhos e encaro o chão, com seu piso enlamaçado e começo a entender. Viver de ilusões, é não viver.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Camaleoa.

Não sei quem sou. Olho-me no espelho e vejo duas faces, com cinco personalidades cada. Perco-me na contagem e no labirinto que existe dentro de mim. E em cada saída encontro eu mesma parada na porta. Várias de mim, que prendem-me e sufocam-me. Cada uma com seu jeito, sua feição, pensamento. Fecho os olhos e grito "Chega". Abro-os em seguida e encaro o espelho, dessa vez vazio. Não encontro nada, a não ser um lugar vago. Todas se foram. Toda minha inconstância.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Estrelas.

"Uma noite estrelada vale a dor do mundo." Suspiro ao ler essa frase da Adélia Prado. De certa forma, ela está correta. Olho pela estreita janela do meu quarto e observo os pequenos corpos celestes pintarem o céu com seu brilho. A imensidão negra do céu noturno me engole, absorvendo todos meus medos e anseios. E essa dor, aqui dentro, vai sumindo aos poucos ao abrir minhas pálpebras e ouvir um som parecido com milhares de guizos. Oh sim, as estrelas sorriem para mim. E por um milésimo de segundo, sinto-me novamente feliz. Certamente Adélia Prado estava correta.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Delírios.

Sonho com o que não posso ter. Sonho com um céu à noite, com seus tons de azul marinho intrigantes e estrelas de lata. Sonho com árvores feitas de tangerina e grama de marmelada. Sonho que sou a Lucy. Sonho com pássaros vermelhos rubi que voam devagar pela tonalidade amarela do céu pela manhã, planando tranqüilos, como se não tivessem medo de nada. De nada. Sonho com uma sociedade sincera. Sonho com uma cidade feita de cores, sons, cheiros e sabores. Fecho os olhos e vejo a música, danço com ela, perco-me em seu corpo. Sonho com um enorme campo feito de girassóis coloridos e anormalmente maiores, com crianças correndo pelo redor e tentando subir em seus caules. Sonho que a felicidade é um pássaro violeta, e eu corro atrás dele, tentando enjaulá-lo em meu corpo. Sonho que a morte é um primo distante do medo. Abro os olhos e encontro-me sentada no chão de um quarto escuro. Esse é o meu sonho. E o seu?

Conto.

A menina sorriu sincera e olhou para baixo rapidamente, sentindo o olhar do garoto sobre si durante os poucos segundos de seu ato. Elevou o rosto quando sentiu uma leve brisa de verão tocar seu corpo suavemente e observou o menino sorrir. Ele gostava dos pequenos toques, de coisas simples. – Então, como você está? – Ele desviara o olhar da relva e observara a menina, sorrindo. Preocupava-se com ela. Muito. – Acho que agora bem. – Ela dissera e ele sorrira. – Eu lhe disse que os problemas eram momentâneos. Eles sempre vão embora. E eu estarei aqui lhe ajudando sempre. – A menina abaixou a cabeça envergonhada por um momento e concordou. – Sim, eu encontrei em alguém motivos para continuar. – Ela dissera e levantara o rosto devagar. – Você? – O menino perguntara e sorrira. – Não. Você.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Here come's the sun.

Um dia de sol é tudo que eu preciso. Céu azul com gaivotas planando no ar e raios solares tocando o mar como em suaves beijos. Andar na beirada da praia e sentir a gostosa sensação de meus dedinhos dos pés afundarem na areia. Fechar os olhos e suspirar aliviada, sentindo a brisa marítima bater suavemente em meu rosto, levando meus problemas momentâneamente consigo. Esboçar um sorriso sincero ao ver crianças brincando na areia, com seus olhares puros e inocentes, sem saber das dores do mundo. Ouvir pássaros encantando o seu redor com suas melodias intrigantes. Observar um casal de velhinhos tomar água de coco sentados em um banquinho de madeira, trocando olhares apaixonados, e convencer-me por um segundo que o amor existe. E que um dia eu também terei um momento assim. Um dia de sol é tudo o que eu preciso. Então, me diga, quando esse céu nublado sumirá?

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Love.

O amor vence tudo”. Certa vez li essa frase em algum lugar. “O amor vence tudo”. Será mesmo? Será o suposto amor tão forte que acabaria com qualquer sentimento, emoção? Medo, raiva, ódio, insegurança... E como saberemos que é amor? Cansei de ser iludida com velhos livros de histórias infantis, sugerindo que o amor é aquelas banais e clichês borboletas no estômago. É o príncipe montado em seu cavalo branco, com todas suas perfeições. Não. Eu acho que o amor é bem mais que isso. O amor não tem face. Não tem cavalo. Não tem que ter perfeição. Não existem borboletas, não no começo... O mais perto disso é no fim do amor. Cria-se um gigantesco buraco negro no seu estômago, que suga toda sua felicidade. Esperança. Mas, o amor em si, é como caminhar em uma ponte de olhos fechados. Ou você supera o medo de seguir até o final, ou então você vai ficar parada. Sozinha. No começo da ponte.

domingo, 9 de maio de 2010

Fadiga

Cansei. Cansei de falsas promessas, falsos amigos, falsos amores. Cansei da vida. As pessoas fingem se importar, mas no fundo, você sabe que é mentira. Todas são assim, sem exceção. Se eu temo generalizar? Claro que não. Quando você tem seu coração quebrado diversas vezes, você aprende a não temer mais nada. Estou fatigada dessa velha história de “cair e levantar”. E quando não se consegue? Quando seus pés enroscam em algo no chão e te prendem? Ou então, de tantas vezes que você caiu, não consegue mais forças para se reerguer? Nessa hora você só precisa de alguém para te ajudar a levantar. Mas não tem. Vivemos em uma sociedade hipócrita. Dizem que amam sem amar. Fazem promessas prematuras que não podem cumprir. Pessoas efusivas. É delas que devemos esperar o belo “virar de costas”, porque é isso que elas farão com você na primeira oportunidade. Tudo que eu preciso é de alguém para dividir um chocolate quente em uma tarde fria e chuvosa de domingo enquanto debochamos dos programas ignóbeis da tv. Alguém para rir comigo e me apoiar quando eu chorar. Ou melhor, eu não preciso de ninguém. Eu não quero mais ninguém. Contento-me só comigo mesma. Sou a única pessoa que posso confiar e tenho certeza que não irei decepcionar ou virar as costas para mim. Pode me chamar de hipócrita, agora, por falar coisas de que não acredito. Minha imagem fria é só uma máscara pra meu interior tênue. Eu digo que não, mas sempre acabo confiando nas pessoas. Nas suas atitudes, nas suas promessas, nos seus amores. Sou estúpida. Já era para minha alma ter se dilapidado. Dizem que é das escolhas erradas que nasce o amadurecimento. Preferia continuar imatura a sofrer a dor que elas geram. Ou não. No momento eu só prefiro não continuar com essa mentira e que essa dor suma logo. Mas, no fundo, eu sei que ela vai passar. Mais cedo ou mais tarde, vai passar.