quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Verdades.

Pode se sentar. Quer uma bebida? Não bebe? Oh, tudo bem então. Eu sei que faz mal, menino. Mas, para alguns problemas na vida, isso aqui é uma das soluções. Não some com a dor completamente, mas a faz desaparecer momentaneamente. Qual a minha dor? Você não entenderia, menino. És tão novinho... Mas, minha dor é a angústia da vida. É o querer e não ter. É o sofrer pela agressão das lágrimas na pele áspera, você consegue me entender? É olhar para cada pôr-do-sol e não encontrar ali um motivo para viver. É olhar para a imensidão do céu noturno e não enxergar as estrelas. Não, isso não é poesia de bêbada desiludida. É a realidade que não queriam jogar na sua cara. Quando somos novos tudo parece ser revestido por veludo. Todo dia é de sol, os pássaros sobrevoam o céu sempre e o vento é apenas uma brisa. Conforme o tempo passa, você descobre que os dias mais são de chuvas do que de sol. Os pássaros se escodem e a ventania incessante agride seu rosto o deixando sem ar. Aproveite enquanto pode, menino. Aproveite a alegria da tua juventude, que de uma forma brusca a vida vai arrancá-la de tuas mãos em um piscar de olhos. É como comer a maçã e ser expulso do Éden. O quê? Não, você não pode evitar isto. Não é como se você pudesse escolher entre ir pelo caminho da direita, ou pelo caminho da esquerda. É algo que está fora do seu alcance. Você parece um pouco nervoso, quer um cigarro? Ah, não fuma? Eu sei que isso mata. Mas não pode causar mal a alguém que já está morto, não é? Sim, eu estou morta, menino. Morta por dentro. Sim, meu coração ainda bate. Apesar de algumas cicatrizes e arranhões causados por punhais da vida. Sou um cadáver. Um ser vivo sem alma. Você não quer ser assim? Você não tem escolha, menino... As decepções são grandes. Elas nos derrubam, nos chutam, e nos deixam atirados no chão. Você teria forças para levantar? Pois é, eu não tive. Não tenho mais. Me acostumei com o áspero asfalto. Daqui debaixo dá para ver as estrelas às vezes, sabia? Assim, bem às vezes mesmo. Um ponto ou outro qualquer, perdido no céu, parecendo pequenas pérolas. Porém com a facilidade que aparecem, se esvaem. Não, não há mais chances para mim, menino. Mas talvez haja algumas para você, quem sabe. Não posso te falar quais escolhas deve fazer para não passar por isto. Passar por isto é inevitável. O modo como vai encarar e superar é o que diferencia você das outras pessoas. Eu escolhi o meu, e cá estou. Sozinha, fúnebre e triste. Esperando pela cartada final deste grande jogo. Enfim, foi bom lhe conhecer, menino. Que a doçura dos teus olhos não seja roubada pelas atribulações da pérfida vida. Até logo.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Vazio.

Sentada defrente para a mesa, com uma garrafa de alguma bebida com teor alcoolico alto -como sempre, minha sutil preferência - mergulho meus olhos no conteúdo transparente do copo, enquanto uma pergunta que há meses ronda minha cabeça volta a importunar minha alma, arranhando-a devagar querendo respostas: "Qual é o problema?"
Balanço o copo devagar, vendo o gelo esbarrar no vidro e fazer um barulho quase inaudível. Viro o conteúdo todo de uma vez e balanço a cabeça, implorando para que esta pergunta seja solúvel e suma do meu pensamento. Mas ela não some. Qual é o meu problema? Eu sinceramente, lhes respondo que não sei. Escuto isso em todos os lugares onde vou. De todas as pessoas que conheço. Se elas não sabem, não fazem idéia, como eu saberei? Em um dia era eu, com minha pobre rotina frugal. Acordando todos os dias e sendo a mesma pessoa. Em outro dia, já não era mais a mesma. Aí surgiram as perguntas... As quais procuro respostas até hoje. Caminhei até o espelho e olhei meu reflexo: As mesmas roupas, o mesmo cabelo, os mesmo trejeitos. O que havia mudado, afinal? Havia mudado algo aqui dentro. Meus olhos não possuíam mais brilho algum. Eu estava oca. Vazia. Perguntei a garota do espelho se ela sabia porque eu estava assim e minha resposta foi o silêncio. O silêncio que gritava dentro de mim. O nada que corria pelas minhas veias e chegava até o meu órgão vital, dilapidado. Batendo devagar, quase parando. E aquela enorme sensação que invadia meu estômago e se espalhava por todo meu corpo em segundos? Sumiu. Morreu, desapareceu. Você não flui mais no meu sangue. Na minha cabeça. E foi isso que sobrou de mim, sem você: um corpo vazio. Procurando sempre por algo que cubra o buraco. Bebidas, luxúria, diversão. Mas nada tampa. Nada é capaz de suprir a fome que eu sinto de você. E virando mais uma vez a garrafa, encarando um ponto qualquer daquela sala empoeirada e incólume eu me pergunto: Qual é o meu problema?