segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Diálogo de uma noite.

- Não gosto de noites frias.
- Eu gosto. Fazem-me lembrar que nem todos os dias são de sol.
- Porque chora?
- Porque machuca.
- O frio?
- A dor.
(silêncio)
- Quando dói, eu costumo olhar o céu à noite. O brilho das estrelas, de uma forma estranha, consegue me fazer sorrir.
- Não funciona mais, menino. Esse vazio sugou todo o brilho.
- Porque não faz um muro?
- Um muro?
- Um muro de pedras. Pegue todas as pedras que ver, e para cada problema, coloque uma no muro.
- Não existe tantas pedras assim no mundo, menino.
(silêncio)
- Você ainda terá algo sempre com você.
- Esperança?
- Eu.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Diálogo de uma manhã.

- O que você está fazendo aqui?
- Vim até aqui para ver o mar.
- Eu gosto do mar. Principalmente a essa hora. Olhe, os raios de sol tocam suavemente a água. Como se roçassem a palma de sua mão pelo rosto da mesma, e ela sorri. Seu sorriso é tão inebriante, que ofusca o céu com seu brilho.
- Porque ela sorri?
- Porque ela gosta do toque dele, menina.
- Ele não consegue perceber isso?
- Sim, ele percebe. Mas não pode fazer muito quanto a isso.
- Por quê?
- Porque ele não a ama.
- Então, porque ela continua esperando ele toda manhã?
- Porque é melhor sentir as sensações que o seu toque a causa apenas uma vez, do que viver eternamente sem isso.
(silêncio)
- É lindo.
- Concordo. Eu gostaria de fugir para cá, e observar todas as manhãs esse belo espetáculo.
- Fugir de quê?
- Do amor. Apenas o suave roçar da palma de sua mão, menina, não faz-me sorrir mais.
(silêncio)
- Porque nunca me disse?
- Iria mudar algo?
- Não.
- Por isso.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Medo.

Eu sou assim, não me julgue insana. Sou apenas um ser humano comum. Talvez um pouco mais tresloucada...
Tenho meus medos. Sim, patéticos, mas são meus. Sinto medo de escuro, abelhas, da morte, filmes de terror. Medos que talvez você julgue banais. Porém isso faz parte de mim. Você me entende? E eu não consigo me desvencilhar deles. Sabe aquela frase: "Pratique o desapego." ? Pois é, é bem mais fácil falar do que praticar. Vou te falar, a maioria das pessoas não pratica. Porque não conseguem se desapegar de seu passado. De todas as coisas ruins e boas que as ajudaram a crescer, e tornar-se o que são. É difícil abrir o seu arcaico armário de madeira, e retirar de lá todas suas roupas empoeiradas, colocá-las em um saco frugal de lixo, e deixá-las para trás. Não conseguimos fazer isso. Quando abrimos o armário e seguramos as roupas, cada uma nos lembra alguma coisa. Aquele pôr-do-sol no arpoador, aquela sexta-feira gélida de inverno, onde você deixou cair chocolate quente em minha blusa. A estréia de um bom filme no cinema. Uma tarde fazendo um piquenique com os amigos. E é difícil livrar-se dessas lembranças. Tanto das ruins quanto das boas. Temos medo. Medo de que a falta delas nos enlouqueça. Mude quem somos agora...
Mas, para te falar a verdade, eu cansei de ter medo. Já tive tanto medo de perder algo, que terminei perdendo. Agora só quero mudar a página, rasgar as roupas antigas e queimar as fotos. Deixar o passado e me desapegar de tudo e de todos. E o medo? Coloquei ele dentro do saco frugal de lixo, e pretendo carregá-lo para bem longe daqui. Cansei de tê-lo em minha vida. É tempo de mudanças.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Carta.

Só escrevo essas linhas para que entendas como me sinto.

Eu fico feliz com dias nublados, mas, os dias de tempestade me assustam. E quando sinto-me insegura e sozinha, você está comigo. Me ajudando a superar o medo da escuridão e cobrindo meus ouvidos com suas mãos quando algum raio machuca-o com seu alto barulho. E eu seguro a sua mão e sorrio, pensando que por maior que seja o tempo que eu esteja longe de ti, eu sempre voltarei. É uma certeza. Como saberemos que o sol sempre nascerá logo pela manhã. E as estações passam: Verão, primavera, outono, inverno. E você sempre está aqui. É você que passa delicadamente seu polegar pelo meu rosto quando choro, e me pede baixinho para eu não desistir do mundo. Para eu aguentar firme. Que enquanto eu estiver aguentando esse peso em minhas costas, você estará me segurando. Que enquanto eu aguentar, você irá aguentar também. E eu esboço um sorriso ao saber que não estou só. Sabe, eu já te falei que a solidão me assusta? É meu caro, ela me assusta. Muitíssimo. Preciso sentir que há alguém comigo, algum afeto, carinho, algum amor. Love is all you need. E com você eu me sinto assim. Não me importo que o mundo esteja desabando, que constelações caiam sobre a terra e o sol esfrie virando um imenso cubo de gelo. Eu continuarei segurando a sua mão. Eu continuarei contigo. Eu continuarei sendo sua amiga. Você consegue me entender agora? Não sei, me bate uma agonia nessas noites de sexta-feira tão tristes. E hoje eu fiquei com vontade de expelir tudo que sinto. Tudo que estava guardado cuidadosamente nesse meu coração arcaico. Cuspo as palavras e elas saem naturalmente. Não dói. Não é estranho. É a pura verdade. É amor. Amizade.
Enfim, escrevo-te para que tenhas uma pouca idéia do quanto é importante para mim. Cartas nunca foram minha especialidade, você sabe disso. Só quero que saibas que naqueles dias tristes, quando lágrimas escaparem infreavelmente do teu rosto, quase afogando-te nelas, você poderá me ter por perto. Em qualquer dia, em qualquer ocasião, momento, sentimento. Estarei ao teu lado até que o sopro de vida seja levado do meu corpo, carregado delicadamente para algum lugar qualquer. Acho que já consegui lhe explicar um pouco do que sinto aqui dentro. Olha, coloque a mão. Está sentindo? Ele bate. Apesar de todas as cicatrizes, ele bate. Porque alguém sentou ao meu lado enquanto ele estava despedaçado, e perdeu seu tempo costurando pedaço por pedaço com uma fina agulha de metal. Esse alguém foi você.
Agora, me despeço aqui com grandes beijos. Até breve.


Pequena carta, dedicada à alguns.

Gaivota.

Entenda, por mais que você deseje arduamente, você não irá me aprisionar. Não quero, não consigo me prender a algo. Preciso ter a imensidão do céu claro, que de tão azul parece que foi pintado, à minha visão. Preciso do sol, das nuvens, da chuva, do vento. Ah, o vento. Que sempre me fez companhia, e consegue me acalmar apenas com um beijo suave. Você tem de me aceitar como sou. Um pássaro selvagem que não aceita ser colocado em nenhuma gaiola, seja ela de metal, bronze, prata, e até mesmo de ouro. Poderia me dar uma gaiola repleta de cristais que eu sofreria ao olhar o mundo das grades e não poder me jogar sobre ele. Preciso do mundo. Preciso dos amores platônicos, dos sorrisos em uma tarde ensolarada na praia, do choro de um dia nublado e cansativo, da mágoa dos que partiram meu coração sem ao menos perguntar se poderiam. Preciso do mundo repleto com tudo que há de pior e de melhor. Isso é viver. Aceitar as dores e as alegrias, e é isso que eu quero. Saltar por entre as estrelas, sem ter medo de cair. Voar o mais alto possível e conseguir alcançar as nuvens, vendo nelas alguns dos meus sonhos, tentando segurá-los e guardá-los na palma da minha mão, observando no instante seguinte tudo virar nada. É isso. Nada dura para sempre, nem irá durar. E eu vôo o mais alto que posso, sentindo a liberdade bater em meu rosto e entorpecer minhas narinas, deixando-me feliz. Eu necessito disso de uma forma insana, que não sei explicar. Portanto, não tente me prender. Preciso planar por entre as nuvens e conhecer o mundo, ter minhas quedas e vôos inebriantes para contar. Não deve existir dor maior do que olhar o mundo de uma gaiola, sabendo que nunca poderá tocá-lo.