sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Abismo de cosmos

Dizem as más línguas, que se olharmos para o abismo, ele costuma olhar de volta. Isso acontecia constantemente comigo, até o dia que ele não encontrou mais o vazio. Encontrou a flor, que havia sido plantada dentro de teus olhos. A suavidade e o aveludado das pétalas de tom marrom me lotavam de desassossego. Tuas raízes vertiginosas cresceram com tal rapidez, dentro de mim, que eu me assustei com a evolução quando percebi que eu estava repleta de flores ardilosas. Você me possuía dos pés à cabeça. Meus olhos eram o reflexo dos teus. Meus pensamentos só navegavam em imagens que havia tuas pétalas. Em meu peito, batia o teu sorriso. Não possuía mais coração. Ele era você. Ele é você, menino dos olhos cor de “flor-de-chocolate”. A imagem que eu observo no espelho me denuncia todo esse torpor ígneo que eu possuo correndo em minhas veias. Então, acho que isso é... Como é mesmo aquela palavra? Que se cuida mais de uma pessoa, mesmo não recebendo em troca algo com a mesma equivalência.

Dizem as más línguas, que se olharmos para o abismo, ele costuma olhar de volta. Isso acontecia constantemente comigo, até o dia que ele não encontrou mais o vazio. Ele encontrou você.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Oração do filho pródigo

Com um terço em minhas mãos, rezava com toda fé que em mim havia sido depositada. Rezava para que, talvez com meu pranto desolado, Deus ouvisse lá de qualquer-que-seja o lugar que Ele habite, e resolvesse vir até mim. "Vinde até mim, Senhor."
Eu implorava em minhas preces imaculadas. "Agarre tua ovelha desgarrada em teus braços santos e me ajude. Explique-me como posso respirar novamente sem sentir meus pulmões comprimidos pelo pecado."
E falando em pecado, ele se projeta sempre à minha frente, com forma e olhos que irradiavam promiscuidade e desonra.
Como poderia apenas um olhar corromper a carne? Carne Tua, meu Deus. Tudo na vida tem uma volta. Tudo um dia tem fim. Peço-te que cure e faça sumir meus sigmas, tanto da pele quanto da alma. E em cada conta que passava pelos meus dedos pérfidos eu repetia para comigo mesmo:
"Vinde até mim, Senhor, pois agora, mais do que nunca, eu preciso de ti."

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Colecionando dias

Neste mundo alarido e ardiloso, há pessoas que possuem o certo hábito de colecionar coisas. Conheço alguns pândegos que colecionam livros; outros que colecionam moedas. Loucos que colecionam besouros. Tênues que colecionam borboletas. Eu coleciono dias.

Possuo uma enorme caixa feita de devaneios. Nela, há meus preciosos dias. Lá dentro, estão separados e existe de todos os tipos: Dias ensolarados onde as nuvens passeiam pelo céu, fazendo um carinho suave nas gaivotas; Dias cinzentos e tristes, onde lágrimas de chuva caem do céu, molhando toda a superfície da terra com suas mágoas. Há os dias mornos, onde um pôr-do-sol a tarde não lhe deixa nem triste, nem feliz. Apenas aquela sensação confortável de satisfação. Em um canto, escondidos, estão os dias que eu achei que nada teria solução. Escuros, mas pareciam à noite. Estes dias não valem muito à pena serem revistos; Apenas estão lá para que eu lembre que aconteceram.

E conforme o tempo frugal passa, eu vou colocando mais dias dentro da minha caixa. Nela, eles tornam-se perenes. Reviro-a, às vezes, procurando um dia específico, sem sucesso. É um dia que as nuvens parecem alegres, pelo céu ter sido pintado com as tonalidades de rosa e laranja; O vento sopra tranquilo e um par de olhos penetrantes me observa, com uma ternura inimaginável. Esse dia não existe. Mas, tem um lugar especial na caixa guardado exatamente para ele.

domingo, 13 de março de 2011

Amazonita.

Então é isso. Chutei a muralha de pedras, arranquei os punhais e ergui meu escudo. Os sussurros do vento me aconselharam que é só eu olhar além, que verei que não sou como um grão de açúcar. As gotas de chuva que me atiram, não me atigem mais. Sou uma turquesa. Ou talvez uma amazonita. Eu sou a senhora da minha vida e das minhas verdades e escolhas. Se o mundo tenta me empurrar para baixo, além do poço, chutando-me até o subsolo, eu localizo minha força e me levanto, tenha que empurrar ou passar por cima de quem for. Se lhe der um tapa, vire a outra face. Não. Me recuso a crer nisso. Me recuso a acreditar em todas essas mentiras que nos foram contadas desde que nascemos. Faço uma pilha com todas os livros infantis, que nos fazem pensar que alguém virá nos salvar. Pego todas as inverdades, toda a insegurança, todo o fracasso e coloco na pilha de madeiras, tacando querosene e fogo em seguida. Eu sou a senhora do meu futuro, e minha decisão não foi abaixar a cabeça para todos que tentam tampar meu sol. Minha decisão foi dançar por cima da cinza deles até o surgir das estrelas.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Blood Valentine.

O único som que podia ser ouvido no ambiente, era o barulho de seu coração mortificado. Eu estava sentado no chão, encostado na parede gélida com seu corpo em meu colo. Seus cabelos platinados espalhados pela minha perna, manchados de vermelho. Sua boca entreaberta e seus olhos semicerrados, com a aparência cansada, talvez pela luta. Deslizei meus dedos sujos pela sua pele cor de marfim, não sentindo nenhuma reação ao toque. "O que eu farei com todo esse amor?" Eu lhe perguntei, tendo o silêncio como resposta. O que eu farei com todo esse amor dentro de mim? Elevei minha cabeça e encarei o espelho à minha frente. O reflexo me apontava e gritava todos meus erros. Fechei os olhos e tampei meus ouvidos, me recusando a escutar tudo aquilo que eu já sabia. O eco do corpo dela batendo contra o chão me fez abrir os olhos instantâneamente. A peguei delicadamente e deitei-a novamente em meu colo. "Machucou-se, meu amor?" Eu perguntei, acariciando sua pele fúnebre. Ouvi ao longe barulhos de sirene e minutos depois a porta fora aberta bruscamente. Continuei sentado encarando seu rosto, até tê-la arrancada dos meus braços. Ela havia morrido e eu também. Morrido por dentro. Deixei-me ser levado, sem me rebelar, sem tentar me soltar. Apenas fui. E em um surto que não sei lhe denominar, eu me perguntei: "O que foi que eu fiz?"



"Oh my love, please don't cry. I'll wash my blood hands, and we'll start a new life."

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Verdades.

Pode se sentar. Quer uma bebida? Não bebe? Oh, tudo bem então. Eu sei que faz mal, menino. Mas, para alguns problemas na vida, isso aqui é uma das soluções. Não some com a dor completamente, mas a faz desaparecer momentaneamente. Qual a minha dor? Você não entenderia, menino. És tão novinho... Mas, minha dor é a angústia da vida. É o querer e não ter. É o sofrer pela agressão das lágrimas na pele áspera, você consegue me entender? É olhar para cada pôr-do-sol e não encontrar ali um motivo para viver. É olhar para a imensidão do céu noturno e não enxergar as estrelas. Não, isso não é poesia de bêbada desiludida. É a realidade que não queriam jogar na sua cara. Quando somos novos tudo parece ser revestido por veludo. Todo dia é de sol, os pássaros sobrevoam o céu sempre e o vento é apenas uma brisa. Conforme o tempo passa, você descobre que os dias mais são de chuvas do que de sol. Os pássaros se escodem e a ventania incessante agride seu rosto o deixando sem ar. Aproveite enquanto pode, menino. Aproveite a alegria da tua juventude, que de uma forma brusca a vida vai arrancá-la de tuas mãos em um piscar de olhos. É como comer a maçã e ser expulso do Éden. O quê? Não, você não pode evitar isto. Não é como se você pudesse escolher entre ir pelo caminho da direita, ou pelo caminho da esquerda. É algo que está fora do seu alcance. Você parece um pouco nervoso, quer um cigarro? Ah, não fuma? Eu sei que isso mata. Mas não pode causar mal a alguém que já está morto, não é? Sim, eu estou morta, menino. Morta por dentro. Sim, meu coração ainda bate. Apesar de algumas cicatrizes e arranhões causados por punhais da vida. Sou um cadáver. Um ser vivo sem alma. Você não quer ser assim? Você não tem escolha, menino... As decepções são grandes. Elas nos derrubam, nos chutam, e nos deixam atirados no chão. Você teria forças para levantar? Pois é, eu não tive. Não tenho mais. Me acostumei com o áspero asfalto. Daqui debaixo dá para ver as estrelas às vezes, sabia? Assim, bem às vezes mesmo. Um ponto ou outro qualquer, perdido no céu, parecendo pequenas pérolas. Porém com a facilidade que aparecem, se esvaem. Não, não há mais chances para mim, menino. Mas talvez haja algumas para você, quem sabe. Não posso te falar quais escolhas deve fazer para não passar por isto. Passar por isto é inevitável. O modo como vai encarar e superar é o que diferencia você das outras pessoas. Eu escolhi o meu, e cá estou. Sozinha, fúnebre e triste. Esperando pela cartada final deste grande jogo. Enfim, foi bom lhe conhecer, menino. Que a doçura dos teus olhos não seja roubada pelas atribulações da pérfida vida. Até logo.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Vazio.

Sentada defrente para a mesa, com uma garrafa de alguma bebida com teor alcoolico alto -como sempre, minha sutil preferência - mergulho meus olhos no conteúdo transparente do copo, enquanto uma pergunta que há meses ronda minha cabeça volta a importunar minha alma, arranhando-a devagar querendo respostas: "Qual é o problema?"
Balanço o copo devagar, vendo o gelo esbarrar no vidro e fazer um barulho quase inaudível. Viro o conteúdo todo de uma vez e balanço a cabeça, implorando para que esta pergunta seja solúvel e suma do meu pensamento. Mas ela não some. Qual é o meu problema? Eu sinceramente, lhes respondo que não sei. Escuto isso em todos os lugares onde vou. De todas as pessoas que conheço. Se elas não sabem, não fazem idéia, como eu saberei? Em um dia era eu, com minha pobre rotina frugal. Acordando todos os dias e sendo a mesma pessoa. Em outro dia, já não era mais a mesma. Aí surgiram as perguntas... As quais procuro respostas até hoje. Caminhei até o espelho e olhei meu reflexo: As mesmas roupas, o mesmo cabelo, os mesmo trejeitos. O que havia mudado, afinal? Havia mudado algo aqui dentro. Meus olhos não possuíam mais brilho algum. Eu estava oca. Vazia. Perguntei a garota do espelho se ela sabia porque eu estava assim e minha resposta foi o silêncio. O silêncio que gritava dentro de mim. O nada que corria pelas minhas veias e chegava até o meu órgão vital, dilapidado. Batendo devagar, quase parando. E aquela enorme sensação que invadia meu estômago e se espalhava por todo meu corpo em segundos? Sumiu. Morreu, desapareceu. Você não flui mais no meu sangue. Na minha cabeça. E foi isso que sobrou de mim, sem você: um corpo vazio. Procurando sempre por algo que cubra o buraco. Bebidas, luxúria, diversão. Mas nada tampa. Nada é capaz de suprir a fome que eu sinto de você. E virando mais uma vez a garrafa, encarando um ponto qualquer daquela sala empoeirada e incólume eu me pergunto: Qual é o meu problema?