segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Agapórnis



    As leves brisas primaveris passeavam pelas ruas, depositando beijos doces nos rostos corados das incógnitas pessoas que caminhavam naquele local. Arbustos floridos de lantanas vermelho-sangue eram dispostos sob a grama verde fresca que cheirava a vida; rostos inundados de alegria, crianças transbordando em suas faces o quão maravilhadas estavam de poder apreciar algo como aquilo (algumas línguas utópicas diziam que era o paraíso).
  Seus passos eram lentos e gentis, os pés decalços, afundados no chão cor-de-esmeralda com algumas pedrinhas importunas que ela chutava às vezes, quando entravam em seu caminho. Sentou-se à beira de um rio, levando seus dedos cor-de-carmim às águas cristalinas, onde pequenos peixes dourados dançavam ao som da música da torrente; um sorriso inesperado tomara conta de seus lábios quando vira pequenos agapórnis coloridos voando pelo local, em uma valsa fraternal de acasalamento e amor; pudera ouvi-los murmurar juras apaixonadas perante aquela paisagem, ao Deus sol, ao céu, à água, às raízes, o quanto se amariam.
- Para sempre. - Assustou-se com a voz ao pé do ouvido, rouca e aveludada. Virou-se e encarou olhos cinzas claríssimos, que ela tivera certeza que sob algum certo tipo de luz tomariam o tom de violeta.
- Como disse? - Sua voz soara baixa, como se fora obsoleta. Por um momento as brisas fugiram, como se estivessem apressadas em ir para casa. Os arbustos floridos desapareceram em algum vazio que ela não notara como chegara alí, o chão tornara-se profundo demais e o riacho já não existia. O seu paraíso desaparecera. Apenas aqueles olhos permaneciam.
- Os agapórnis. - Ele disse, levando uma de suas mãos até as águas cristalinas, como se acariciasse a margem - A palavra tem origem do grego, e significa pássaro do amor. Segundo uma antiga lenda, estes pássaros formam casais inseparáveis e, quando um vem ao acaso morrer, o outro não se acasala mais. Sofre calado amando sua parceira inexistente... Para sempre.
Ela escutara tudo de cabeça baixa, domada pela história e pela voz. Existiria algo mais belo que isso?
- E isso é verdade? - Inclinou seu rosto para cima e encarou o vazio. Seu paraíso voltara e, os olhos cinzas penetrantes que antes estavam alí encarando-a, sumiram com o vento.
- O que faz aí encarando o nada? - Ela erguera sua cabeça quando ouvira uma voz conhecida, de sua amiga. A observava como se a saniade estivesse escapulindo pelos seus poros. A menina sorriu, e encarou o agapórnis de cor azul-turquesa parado ao seu lado, levando um de seus dedos até a ave, sentindo-o empoleirar-se em sua pele, arranhando seus dedos com os pequenos pés que possuía.
- Nada. Achei que tivesse visto um anjo.