O único som que podia ser ouvido no ambiente, era o barulho de seu coração mortificado. Eu estava sentado no chão, encostado na parede gélida com seu corpo em meu colo. Seus cabelos platinados espalhados pela minha perna, manchados de vermelho. Sua boca entreaberta e seus olhos semicerrados, com a aparência cansada, talvez pela luta. Deslizei meus dedos sujos pela sua pele cor de marfim, não sentindo nenhuma reação ao toque. "O que eu farei com todo esse amor?" Eu lhe perguntei, tendo o silêncio como resposta. O que eu farei com todo esse amor dentro de mim? Elevei minha cabeça e encarei o espelho à minha frente. O reflexo me apontava e gritava todos meus erros. Fechei os olhos e tampei meus ouvidos, me recusando a escutar tudo aquilo que eu já sabia. O eco do corpo dela batendo contra o chão me fez abrir os olhos instantâneamente. A peguei delicadamente e deitei-a novamente em meu colo. "Machucou-se, meu amor?" Eu perguntei, acariciando sua pele fúnebre. Ouvi ao longe barulhos de sirene e minutos depois a porta fora aberta bruscamente. Continuei sentado encarando seu rosto, até tê-la arrancada dos meus braços. Ela havia morrido e eu também. Morrido por dentro. Deixei-me ser levado, sem me rebelar, sem tentar me soltar. Apenas fui. E em um surto que não sei lhe denominar, eu me perguntei: "O que foi que eu fiz?"
"Oh my love, please don't cry. I'll wash my blood hands, and we'll start a new life."